Da saudade à morte

O olhar já perdeu a razão
O piscar já perdeu a função,
O coração já perdeu o ânimo,
A boca já perdeu a fala,
Os lábios já perderam o mimo,
Os risos já se perderam na sala,

Os abraços perderam seu dono,
As pernas já perderam os passos,
Os olhos já perderam o sono,
Os dedos perderam seus enlaces,

O corpo perdeu seu acalento,
Os ouvidos perderam a curiosidade,
A alegria perdeu a imortalidade,

Os suspiros se perderam na espera,
As palavras perderam o valor,
A voz se perdeu na esfera,
A fé se perdeu do amor,

Se perdeu a calma,
Sobrou só dor n’alma,
Só há desalento,
Da ausência um tomento,

Da solidão a morte,
Da saudade um corte,
Vai matando aos poucos
E tornando num louco
O que foi amado,
O que foi amante,

E logo estará tudo acabado,
E tudo será como antes
Um verdadeiro nada,
Sem seus amantes
A vida segue calada.

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