SONHO AO SOL

Sonho aqui não se sonha,
medo de queimar-se ao sol que escalda
a água embarrada no retalhado açude
Sonho aqui não se sonha sem o dito do senhor do sertão
soberano de olho arregalado e cripitante
que confunde a cabeça dorida e a vista truvilusca

Sonho aqui não se sonha
pois a cabeça se ocupa com o peso do pote d'água
sempre vazio,
acima da rudia de molambo

Sonho aqui não se sonha
e o coração angustiado – brejeiro – se esconde entre a roupa
escarnecida (única) e a caixa torácica
latanhada pelas dores
que varam as fronteiras do infinito caatingueiro

Sonho aqui não se sonha – quão pouco,
que cabe no chapéu de couro
empunhado na cabeça linhavada pelas cinzas do tempo
Sonho do chapéu devoto que busca no ar,
incontinenti, alevantado pela mão vincada
a perenal misericórdia divina

Sonho aqui não se sonha,
a realidade – pó da Paullinia cupana, mantém o sertanejo acordado
(sempre)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.