A quaresma seguia calma na fazenda baronesa
o pessoal fazia de tudo com intenção de ajudá
as mulhé rezava o terço com um pano na cabeça
os home batia matraca baxinho,bem devagá.
Andava de casa em casa e toda noite repetia
uma cantiga triste,mais parecia um lamento
a procissão estranha no silêncio aparecia
na luz fosca das lamparina dexava tudo cinzento.
Rezava pra quebrá o encanto da maldição
uma estória que os mais velhos gostava de contá
um home feio que morava sozinho na região
se transformava em lobisome nas noites de luar.
Nas noites de sexta-fera o pessoal ficava precavido
a reza acabava cedo e todo mundo ia embora
o bichão peludo ficava no mato escondido
e quando nasce a lua cheia ninguém qué ficá pra fora.
Na cerca de arame berano o fundo do quintal
o alvoroço das galinha e dos porco no chiquero
quebrô o selêncio que já era quase total
um uivo triste se espalhô pelo terrero.
Empurrava a porta da acozinha,arranhava a janela
corria atrais dos cachorros e não parava de uivá
nóis tinha que batê prego mais grosso nas tramela
reforçá as tranca pro bitelo não entrá.
Pela fresta da janela eu olhava assustado
a noite era clara por causa do luar
o danado babava com os zóio avermelhado
comia bosta de galinha,não parava de rosná.
Coçava a cabeça,balangava as zoreia
as umha encurvada parecia de gavião
no cangote um farrapo de camisa vermeia
o resto da ropa espaiada pelo chão.
A lua branca provocava aquela mudança
na estranha criatura amaldiçoada no feitiço
o pessoal da fazenda rezava na esperança
de disfazê o mal feito e acabá com o suprício.
Existia na região uma velhinha feiticera
que ofereceu ajuda em torca de alguma criação
feis uma simpatia que foi no alvo bem certera
ensinô um feito de acabá com amaldição.
Derreteu no calderão um crucifixo de prata
e da prata derretida transvormô
em um punhal
na correia do bodoque feito do timbó da mata
acertô de cheio o coração do animal.
O lobisome uivô de dor,se debateu, esperneou
quando a prata feis rolá o seu sangue pelo chão
a lâmina afiada o encanto do feitiço se quebrou
e hoje virô estória o lobisome do sertão..