NA VIDA REAL

“Vou ao cinema sozinha hoje, preciso sair um pouco, assistir alguma coisa que não seja a minha própria vida”.
Ela levanta já com esse pensamento na cabeça. Sair sozinha para se divertir. Não é próprio dela, mas muitas coisas não são e acontecem mesmo que ela não tenha feito nada para dar início a avalanche de acontecimentos que tomam a sua vida tirando-a de sua rotina, quase sagrada.
Procura não dar muita importância ao cinema, como se tivesse sido apenas um pensamento aleatório e que não seria realizado de forma nenhuma.
Sem querer ir, escolhe um filme.
Sem estar pensado, decide o horário.
Sem perceber, está sentada diante da tela do cinema. Com pipoca e refrigerante e incomodada com aquele som alto e o ar parecendo que vai congelá-la. Tudo bem! “Estou aqui para me distrair!”
O filme começa. É um filme romântico do jeito que ela gosta. Muito amor sofrido, casais que se separam por circunstâncias fora do alcance e que ao final tudo termina bem.
Assim são os filmes. Te fazem chorar, imaginar o pior, torcer por uma coisa que transforme a infelicidade em felicidade. E isso acontece. A infelicidade no final dará lugar a felicidade para sempre.
“Filmes! Sempre nos dando esperanças, acho que isso é bom, pelo menos nos faz esquecer a vida real. A vida que escolhemos e que temos de viver, sem saber qual será o final. Só torcer que se tiver de morrer cedo, a morte tenha valido a pena.” Ela tem esse pensamento enquanto caminha agora para o estacionamento. Precisa voltar para casa, para a sua vida, se tiver de chorar será por ela. Se tiver de torcer terá que ser por ela. A sua vida cuja personagem principal é ela.
“Tenho vontade de rebobinar muita coisa em minha vida, fazer cortes, novas edições e depois de uma pré-estreia, viver! Mas agora já não dá. Já tem personagens demais envolvidos, situações que precisam ser administradas por ela.
“Pelo menos sofri por alguma coisa diferente da minha vida. E isso foi bom! Dar forças em saber que de repente algo inesperado, mas certo, vai acontecer e acertar as coisas. Sei que isso vai acontecer com a minha vida. Só tenho que esperar, sou a mocinha, tenho o direito de ter um final feliz.”
Liga o carro e sai, liga o rádio e vai cantarolando uma música que ela conhece bem. Sente-se bem, mais aliviada, menos tensa. O filme, a saída lhe fizeram bem. Vai para casa mais feliz.
“Quero que ao chegar em casa, ele veja que estou bem, que estou mais alegre e que mudei um pouco, saí do sombrio para um nublado com possibilidades de sol. Quero que ele veja o meu jeito automático de ser deixou de ser de repente e que o amor cinematográfico que eu vivi naquele cinema só serviu para reavivar este amor que ainda vive em meu coração, que teima às vezes em sair, mas não sai. Fica quietinho, esperando, esperando o momento de se apresentar.”
“Acho que às vezes deixo de amar um pouco para sempre sentir saudade de amar demais.”

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