Conheci Mauro três dias depois da ocasião em que, segundo disse, foi a última vez que chorou devido ao divórcio dos pais. Aviso que não era uma personagem plana, digna do papel de protagonista em um polêmico romance, mas ainda assim era um bom rapaz.
Estava sentado num banco de praça ou de escola, não lembro bem, indiferente e com aspecto de menino que, outrora bonzinho, espera a oportunidade de entregar-se aos males do mundo.
Nunca o vi fazendo algo que o desonrasse, nem gargalhada em seu rosto. Tirava ótimas notas, mas não era destaque em recinto algum. Andava cabisbaixo noventa por cento das vezes em que saía de seus pontos de paz.
Até hoje não sei bem o que lhe agradava fazer ou que tipos físicos admirava. Sei que era avesso ao que a maioria faz e reprovava quase tudo que caía no gosto popular. Achava tais coisas de baixo nível e sem características inovadoras.
Raras vezes trajava outra cor que não fosse preto ou branco e sua frase predileta era bom dia, tarde ou noite. Ouvi poucas outras sendo proferidas por meu taciturno conhecido, embriagado da vida moderna e vítima da realidade social do século XXI, assim como eu e você.
Nunca fui convidado a visitar sua humilde e respeitosa residência. Sei que ficara sob a guarda da mãe como na maioria dos casos de separação e que a mais nova solteirona não parava em casa, pois era funcionária de um desses bancos que prometem conforto e vida tranqüila a todos os clientes mas não dão vida social aos empregados.
Essa ausência de convite não ocorria por esse fato, mas pelo receio de que eu pusesse meus pés em seu conturbado ambiente familiar e também pela necessidade de se isolar dos outros, como se isso lhe fizesse bem.
Mauro procurou um seleto grupo com o qual se identificasse e dele eu não participava. Com seus amigos passou a adolescência e fez reuniões cujos objetivos nunca entendi. Era um mundo só deles e quem não compreendia a causa jamais foi bem-vindo. Vingou o conceito de união, porém o de banal caiu com velocidade tão grande que os de fora não assimilariam seu modo de viver nem se tentassem, o que não faziam.
Casou dois anos depois de formar-se em Ciências da Computação, assunto do qual entendia bem graças à experiência e dedicação de muitas horas na frente do computador.
Não o vejo há tempos e não me atreveria a prever se será pai, ou se um dia será feliz … Pessoas como Mauro têm seu destino selado bem antes de notar que a vida é o indivíduo que faz e a História não perdoa quem distorce seu fluxo natural, independente de o crime ter sido cometido por vontade ou não do culpado.