com sinistro olhar de olhos miúdos
lentamente caminho na calada noite
silêncio do grito da fome da sede.
que penso?
meu habitat roubam de mim
vida minha aliá caça terror
terra maná morto marfim
reunião de família
ritual barulhento, barridos, roncos,
agitação de orelhas, afagos com trombas
sou tão gordo, desajeitado, uma baleia da terra firme,
minha mãe África, farta ávida
me fez complexo, uma montanha de carne couro grosso
desejoso de vida, minha manada cresce em mim e eu nela
minhas crias, minhas crias, perpetuem nossa espécie
transpassamos por séculos, perpetuamos entre céu e terra
minha matriarca amada, defenda-nos com suas forças e sabedoria de monge que:
atravessa desertos
cava poços
cuida das crias
esconde em sombras
derruba arvores
nos livre do mal, da violência, da irracionalidade e da crueldade do homem, pobre homem, pobre homem, pobre homem,
que nos ensina a sermos selvagens.
estúpidos devolvam nossas presas,
fazem o que com elas? adornos primitivos?
nossos pelos viram pulseiras
nossas patas pernas de mesa de centro
homem que mata um desarmado, meu sangue na terra, meus ossos ao sol, minha grossa pele putrefata jogada ali em meio a hienas e feras carniceiras.
estampido de um cartucho projeta estilhaços de chumbo, penetram em meu cérebro, cessa-me os princípios vitais,
nem sei o motivo pelo qual fui condenado a morte,
talvez… capricho e diversão de um caçador qualquer.
ainda sinto
pulsar um grande coração
veia bombeia
vida semeia
não passa em mim, não passa, não passa
sinto esfriar minhas vísceras minhas pernas
meu coro grosso não sinto mais
minha tromba não inspira ar suficiente para meus pulmões
onde será o céu dos elefantes?
terá um deus loxodonte?
ampare então aos que ficam
na floresta
não se preocupe comigo, eles precisam perpetuar……
oswaldomoraes
20.04.2013