Eu sou aquele poeta

Eu sou aquele poeta
que escreve por vocação
e produz a sua arte
ao sabor da inspiração
tirando a matéria-prima
das palavras que tem rima
como forma de expressão

Pois no meu ponto de vista
poesia é um meio
de mostrar o que é belo
e denunciar o feio
Nela eu posso expressar
o que é particular
e também o que é alheio

Poesia é um espelho
de uma vida feia ou bela
Quem tem sensibilidade
se vê refletido nela
E também sei e não nego
que até pra quem é cego
ela abre uma janela

Ela pode exprimir
sutilezas do amor
Revelar a diferença
entre espinho e a flor
e por uma analogia
fazer a fotografia
da paisagem interior

Um poeta quando vai
caminhando pela rua
reconhece a poesia
quando se revela nua
na folha que cai no chão
ou nas nuvens que estão
cobrindo a face da lua

Porque existe poesia
até nas coisas singelas
Mesmo estrelas sem nome
formam imagens tão belas
e as flores sem olor
também mostram o candor
do orvalho descendo nelas

Ser poeta é ver beleza
no rio embaixo da ponte
Na aragem sobre o vale
e na alva atrás do monte
quando cobre vagarosa
com sua neblina rosa
toda linha do horizonte

Na aranha quando trama
o mais perfeito crochê
Na abelha que circunda
a flor roxa do ipê
Nos campos onde também
nascem hortências que tem
o formato de um buquê

Um poeta se inspira
na notícia dos jornais
Em sua própria história
Nos temas sentimentais
No teor de outros versos
e em assuntos diversos
que pareçam triviais

O que escreve um poeta
tem um significado
que ele deixa ao leitor
para ser interpretado
Nas poesias que lavra
sempre usa a palavra
com sentido figurado

Poesia é parecida
com receita culinária
que o poeta cozinha
na panela imaginária
escolhendo diligente
cada um ingrediente
na despensa literária

O poeta que verseja
pelo dom favorecido
poesia é sua adega
e seu verso consumido
como um vinho ou licor
que não perde o sabor
depois de envelhecido

Por vezes é artesão
que até por encomenda
com as linhas do estilo
um bordado ou uma renda
vai tramando com empenho
pra fazer o seu desenho
ser melhor que a emenda

Também é o garimpeiro
buscando a inspiração
na jazida do talento
e se encontra um filão
lapida para o leitor
que avalia o seu valor
na devida exposição

E quando se apresenta
no palco da estesia
e consegue transformar
palavras em melodia
com a batuta do estro
o poeta é o maestro
da mais linda sinfonia

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