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Olhas-me nos olhos
Senhor mistério
Envolves-me neste teu bailado
Despudorado e sem critério
Nesse tango cantado
Que ao ouvir me encantou.
Esquentas-me entre tuas mãos
Enquanto envolves-me pela cintura
Escorregando em danças torpes
Numa rubra pintura
Entre coxas e quadris…
Entre teus toques
E nossos choques
Dancemos…
Até o fim desta noite clandestina
Boêmia e profana
Em que nos apaixonamos
Sem ao menos saber nossos nomes!
Dá-me teu calor
Senhor dos olhos de brumas.
Teu sagrado suor
Nesta dança profana
Em meio a Dantes e Bacos
Dá-me tua alma
Neste tango telúrico.
Numa explosão ígnea de paixão
Sinta esse nossa chama
Ardendo em labaredas serpenteantes
Pelas ruas e caminhos
Livres e sem destino
Libertos de nossos próprios medos
Dancemos…
Ah dancemos…
Nossas tristezas e amores
Nossas vitórias e nossas dores
Entre lenços e castanholas
Emaranhados em nossa própria história
Por uma noite de nada mais
Liberte-mo-nos de tudo que um dia fomos…
Neste acasalamento dançante
Prazeroso o bastante
Para perdurar toda uma vida
Funda-mo-nos!
Clarice Ferreira