ÁGUAS (Jô)

Águas fortes, vigorosas,
Levando tudo por frente,
Afogando vidas,
Naufragando navios,
Conduzindo aos rios, os barcos.
Absortas por vezes em seu curso
De tempestades e ventos.
Apavorando marinheiros,
E os pescadores emergindo em sonhos.
Interrompendo também planos, com suas mortes.
Separando vidas.
Tudo arranca em sua força
E engole em seu seio fortalezas de ouro,
Ferro e bronze,
Dos navios náufragos,
Das gentes poderosas ou vis.
Causa espanto e horror
A imagem do desterro,
Resultado de seu poderio.
Admiráveis e respeitadas
As águas, que tudo arrancam.
Esquecem, porém os viandantes de considerar.
Os poetas de mencionar.
Os homens, de admirar as margens.
Compressas e vigorosas,
Impõem limites as molhadas águas.
Contêm a fúria de suas correntezas e ondas.
São tão mais poderosas as margens,
Em seu silêncio discreto e sóbrio.
Fica a contemplar o curso
Destas águas violentas ou serenas.
São as margens que dão curso ao seu desaguar,
Que determinam o seu caminhar.
Nada podem fazer as águas, nem mudar seu destino.
Submetem-se ao desenho de suas margens,
E mesmo ainda quando revoltosas sob o manto
Das cheias e enchentes,
se obrigam retornar ao seu nível normal.
As margens sim são violentas!
Levam as águas e as conduzem
Por onde querem.

Josias Souza (Jô)
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