Uma Folha

Era uma ventosa madrugada de Outono
E eu estava sem sono
Vesti-me lentamente
E fui dar uma volta ao parque calmamente

O parque pequeno era
Poucas árvores e pouca erva
Mas no seu centro havia uma lagoa
Que de um banco se tinha uma vista boa

Sentei-me no banco a contemplar
As árvores desnudas e o céu nublado
E ali a descansar
Passei ainda um longo bocado

Passa sem aviso uma forte rajada
E leva uma fraca folha maltratada
Era uma folha de árvore velha e cansada
Um pouco castanha mas quase toda amarelada

Ela sobre agora o lago repousa
Enquanto o vento por cima dela passa
Flutua pela sua vida
Que certamente está perdida

Um pouco de tempo passou
E apesar do que com ela o vento brincou
A folha resistiu
De voltar à sua árvore não desistiu

“Porque não te deixas afundar?”
A ela lhe fui perguntar
“Porque não aceitas a tua sorte?
“Porque tentas impedir a tua morte?”

Mas ela não me respondeu
Porque era uma folha, que burro sou eu!
Mas por um segundo ela me pareceu compreender
Pois acho que a vi a tremer…

A folha, com toda sua força de folha, nadava
E eu simplesmente a olhava
Ela parecia que ia padecer
Mas acabava sempre por à superfície reaparecer

A certa altura, um pato lhe embate
E quase que ela se parte
Mas mesmo assim
A folha não declarou o seu fim

Como uma folha pode ter tanto poder?
Como pode ela tudo isto sofrer?
Mas eu acabando isto de pensar
A folha começa a fraquejar

A água da lagoa a agarra
E ao fundo leva aquela folha com garra
Para que no fundo da lagoa ela possa dormir
Sem se esforçar para ao seu destino fugir

Eu sei que era uma coisa inútil
Mas sinto que a minha alma com ela afundou
Depois de todo aquele esforço fútil
À sua árvore não voltou

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