Todos os dias, ao me acordar,
me lembro e me esqueço
me renovo e esmoreço
num sobressalto assustado
de mais um despertar.
Me levanto,
bebo uma água sem gosto
e me lavo,
sem esperar me limpar.
Me olho no espelho
me assusto e me chateio
porque a imagem refletida
revela o meu pesar.
Vou ao trabalho
num tédio sem fim…
imploro ao tempo
que apresse seu ponteiro
e tenha piedade de mim.
Mas o tempo custa a passar
tornando meu dia penoso
e eis que dói em todo o meu corpo…
Porque quando, enfim,
eu me concentro
do nada eu me relembro
do grito sufocado
que, infelizmente,
nunca saiu de mim.
E quando, finalmente,
volto para casa,
sorumbática, calada,
eu me rendo à insensatez
pois serena, enlouqueço
e louca eu me esqueço
de tudo outra vez.
Marcela Arôxa