Não há ninguém por perto. Daqui de cima não consigo enxergar a minha cidade. Num barco de papel eu voltaria sã e salva. Pago o preço de um delírio e escrevo enquanto posso. Navego na escuridão de uma noite que dura trinta dias. Amanhecerá, de certo. Não hoje. Ainda levarei algum tempo usando a luz artificial. Guardo algumas lâmpadas na bolsa. Tenho velas ainda e uma caixa de fósforos. Acendo os cômodos da memória e caminho sem saber ao certo aonde ir. Mas estou indo. Num universo de palavras sem sentido, eu descanso e armazeno combustível para a enorme fogueira. Abro cortina ainda que esteja tudo negro lá fora. Respiro tudo o que o outono pode me oferecer. Ensaio um sorriso e só peço que não toquem na minha caixa de fósforos.