O vento gélido soprava em meu rosto e um frio desesperante tomava-me o corpo. Parado, fiquei naquele lugar, que se tornou o endereço do cemitério no qual sepultei minha alma. O magnetismo da memória imantava meus olhos ao chão, fazendo-me perder a noção de tempo e espaço. Notei que tudo em volta de mim abdicou sua cor. Pessoas ficaram sem rosto, vozes sem som, passos sem destino.
Ali minha tristeza edificou um templo alto o suficiente para alcançar as estrelas, com escadas sem corrimão e portas sem maçaneta. Das janelas eram vistas pequenas imagens alegres do passado caindo suavemente, bailando ao ar como uma folha de outono, rumo ao rígido solo da realidade.
Inertes na atmosfera, as sílabas dos poemas ditos e promessas aguardando em sono profundo num berçário situado na pradaria da esperança, chorosas pela certeza de que jamais serão cumpridas. Chorosas porque são espinhos renegados de rosas, porque são um relógio sem ponteiros.
Então, numa caixa, guardei todo o carinho. Numa enevoada e falsa expectativa de um dia trazer à luz mais uma vez a beleza daquelas jóias cujo valor é mensurável em inocência apenas. Pérolas protegidas, confortáveis no veludo, perfumadas com suave almíscar que um dia banhou tua paixão. Doce aroma que outrora nos embriagou.
Inerte fiquei no local onde me disseste adeus. Onde revelou não mais me amar. Sem mais palavras, separaste tua alma da minha. Olhou uma última vez para trás e partiu, para jamais regressar. Eu sei que não irás longe, que continuarás tua rotina próxima a mim, que me olharás por vezes e recordarás do que viveu comigo. Mas este certamente será apenas o reflexo, o espelho partido ao meio do que chamávamos de “nós”.
A brisa, agora fulminante e impaciente colidia com meu rosto. As horas salvaram-me do transe. Pouco a pouco se reestruturava o quebra-cabeça de minha existência. Um lapso de sanidade visitou meu ser e as horas voltaram a correr. Despertei.
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