BOCA-CEREJA

Parada aguardava um táxi naquela rua escura e vazia, com sua mala vermelha onde guardara seus sonhos. Sentia um vento gelado e cruzava os braços na intensão de aquecer a si mesma. A boca com um batom vermelho vivo "pra proteger do frio". Uma puta ela era: boca, olhos, perna, bunda. Só. Clientela selecionada. Cobrava caro. Era paga com níqueis de ilusão. O táxi não vinha e seus sapatos machucando os pés de rainha-lixo. Uma lâmpada queima deixando tudo mais negro. Finalmente os faróis do carro amarelo chegam acendendo sua boca-cereja. Entra em silêncio, prende os cabelos, tira o batom da boca como se ele queimasse. Segue, deixando na calçada a mala cheia de moedas.

Sandra Fuentes

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