A Exclamação da Morte

Por favor, espere.
Você sente, não sente?
A hora afinal chegou.
Então espere.

Deixe-me despedir de você. Talvez não haja outro momento.
Deixe-me tocar pele última vez esses cabelos onde por tantas vezes deixei que minhas mãos se perdessem.
Deixe-me admirar e mergulhar nesses olhos tão azuis e tão profundos que chegam a envolver sua alma.
Deixe-me tocar seus lábios. Lábios tão carnudos e ao mesmo tempo tão delicados, tão macios os quais eu desejo com tanto fervor.
Deixe-me tocar pela última vez seu peito, seus braços, suas pernas, suas mãos, seu corpo que tantas vezes me provocaram as mais indescritíveis sensações e me fizeram ir do céu ao inferno em segundos. Quente.
Deixe-me sentir seu cheiro. Seu cheiro natural que ao invadir minhas narinas faz meu coração pulsar incontrolavelmente.
Deixe-me ouvir sua voz. Esta, que quando você fala baixo, próximo aos meus ouvidos, me faz proferir os mais divinos sons.
Deixe me ver o seu sorriso. Este que sempre me faz bambear as pernas quando o mostra, pois é doce, malicioso e sarcástico. Combinações tentadoramente deliciosas.
Deixe-me despedir de seus beijos. Quero que minha língua se perca pela última vez explorando cada centímetro de sua boca.
Beije-me com toda paixão, com todo desejo, com todo amor que sempre houve entre nós desde o primeiro instante em que nos vimos.

Abrace-me.
Sei que não há mais tempo. Devemos ir.
Nossa responsabilidade nos chama agora.
Ela sempre nos chamou. Sempre esteve entre nós. Mas nós sabíamos.
E mesmo assim insistimos nisso. O amor falou mais alto, não é mesmo?
Mas infelizmente a balança sempre penderá para o lado dela. E não há nada a ser feito, a não ser se curvar a obrigação.
Agora descemos esta longa escadaria rumo ao nosso compromisso. Nosso destino.

O momento então chegou.
Você lembra?
Prometemos que quando a hora chegasse morreríamos juntos.
Viver sem você não é possível. Viver sem mim você não suportaria, assim disse.
Caso acontecesse, seria a morte em vida e esta é infinitamente pior.
Então fizemos o pacto.

Você consegue ouvir?
É a voz de Thanatos. Finalmente ele veio nos buscar.
Veio ceifar nossas vidas e levar nossas almas.
Para onde será que iremos?
Onde passaremos nossa eternidade?
O Deus da Morte nos conduzirá ao lago congelado do Cocito, morada dos traidores?
Ou iremos para Os Campos Elíseos, onde teremos uma existência ditosa, feliz.
Vamos então, segure minha mão.

Depois do clarão,
escuridão e silêncio…
Juntos?!

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