Meu pai deixou-me na infância…
Não veio mais levar-me à praça aos domingos…
Não apareceu mais para brincar comigo…
Sumiu anos sem dar-me notícias…
Infância, adolescência, fase adulta…
Meu pai escondeu-se no mundo…
Um dia…Deus uniu nossos caminhos…
Depois de tanto tempo, os cabelos brancos…
Que tanto sonhava encontrar no meio da multidão…
Encontrei no frio norte do Paraná, num simples telefonema…
Aquela voz rouca, trêmula, a balbuciar meu nome…
Não perdemos tempo em nos encontrar e revermos nossas mudanças…
Naquela rodoviária, combinamos nosso encontro…
Era o homem que eu encontrasse com uma caixa enorme nas mãos…
Não tive dúvidas, aquele homem branco e alto, ar preocupado…
Nem sei como desci aqueles degraus e entre lágrimas…
Abracei-me com os abraços por tantos e tantos anos guardados…
E naquela caixa era uma boneca para a neta que não conhecia…
Emoções tomaram conta de nós três, eu ele e minha filha…
Não desgrudei mais do meu pai, conversamos da madrugada até o amanhecer…
Choramos e sorrimos e por fim descobrimos o quanto estávamos felizes…
Tempo perdido e entreveros da vida, caminhos e vidas que se separam…
Vivi todos os segundos ao lado do meu pai, sorrindo e brincando…
É dele o meu jeito…de sorrir, gargalhar, brincar, levar a vida igual ao mar…
Remando com a maré, ondas e ondas marcando os passos da vida…
Nos despedimos e mais uma vez a distância nos separou…
Mas nossas vozes acalentava a saudade da ausência…
Depois de tantos sorrisos…meu pai adoeceu e tudo mudou…
Aquele a quem tanto desejei a presença, a quem tanto queria conhecer…
Não deu-me o direito de viver mais ao seu lado e partiu…
Para nunca mais voltar e sem dizer-me adeus…
Deus, na sua sabedoria, fez um lindo encontro entre eu e meu pai…
Eu apenas não sabia que era um encontro de despedida.