Maria Nó:

Deixa de ser vengonhosa
e chega prá junto de mim
venha iscuitá minha prosa
que eu fiz pra vancê ansim.

vancê é o meu amor
eu te quero muito bem
mais te peço pro favor
não conta nada pra ninguém.

vois mecê não é bunita
tá cansada de sabê
mais meu coração parpita
quendo olho pra vois mecê.

Êh bruaca fedorenta
que me tortura sem dó
arde mais do que pimenta
amarga mais do que jilo.

Memo ansim eu te aprecio
e faço questão de dizer
quando te abraço me arrepio
dispois garro a tremer.

É o amor, Maria Nó
que me arrocha o coração
vancê é feia que da dó
mais pra mim tá muito bão.

Eu não sou interessero
de beleza e elegância
o que estraga é teu chero
mais pra mim não tem importância.

vois mecê é uma feiura
que eu nunca vi igual
tem defeito com fartura
também isto não fais mal.

eu só quero o seu amor
pra alegrá o meu viver
pra acabar com minha dor
que só me fais sofrer.

já pensou nóis dois juntinho
ahhhh!que satisfação
vois mecê e eu no nosso ninho
Maria Nó do meu coração.

Mais vancê me arrespondeu
com ar de quem não vê
convencida,falou que eu
sou mais feio que vancê.

Sai pioienta,catinguda
izibida duma figa
já está velha e barriguda
prá vancê ninguém mais liga.

Vou pedir pra Santo Antonho
pra te dexar sorterona
não vai casar nem em sonho
viu Maria Nó marmanjona….

Dorvalina de Togó:

Dispois que eu disisti
da ingrata Maria Nó
sem querê eu conheci
a Dorvalina de tongó.

ela era conhecida
por todo mundo do lugá
tinha uma cara cumprida
fazia inté burro refugá.

quando dava uma risadinha
mostrava tudo pra gente
a gengiva vermeinnnnha
só um toquinho de dente.

o zoiaõ esbugaiado
parece uma curujona
remela pra todo lado
êh Dorvalina porcaiôna.

Sua cabeça parece
uma cacha de arapuá
o cabelo nunca cresce
pichaim de sarará.

O seu papo é bem maior
que um cupim de marruais
chia tanto que dá dó
do esforço que ela fais.

As pernas cheia de vêia
peluda igual côro de péia
a Maria Nó além de ser fêia
perto dela é uma tetéia.

Pitava um pito de páia
despois bebia cachaça
rotava cuspia longe
ficava fazendo graça.

coçava que nem macaco
quando tem muita coçera
o fedô do seu subaco
fais gambá fazê carrera.

ficava me biliscano
quereno me abraçá
só vivia perguntano
quando nóis ia casá.

falava que tava quereno
uma lua de mel boa dimais
de lá eu sai correno
e não voltei nunca mais.

saltei de banda. sai assombração.

A Mindota:

A maria Nó me desprezô
a Dorvalina eu não quiz
agora tenho um novo amô
dessa veiz eu sô feliz.

finalmente encontrei
dispois de muito campiá
e com ela ce casei
nossa estória vou cantá.

O nome dela é Mindota
a flor mais linda do sertão
meu coração virô cambota
ficô doido de paixão.

quando viu tamanho brio
que vinha daquele olhar
eu senti um calafrio
que nem posso expricá.

minhas pernas bambeou
minha voz emudeceu
quando ela me olhou
e um sorriso ofereceu.

fiquei verde amarelado
igual cana velha de pendão
cutucava envergonhado
os pedregulho com o dedão.

a Mindota dicidida
resolveu se aproximá
quiz sabê da minha vida
começô a espiculá.

com a prosa da Mindota
acabô minha vergonha
larguei mão de sê idiota
de perrengue de pamonha.

deixei de banda o acanhamento
criei corage pra valé
pedí ela em casamento
sem antes nada dizê.

a Mindota esburrachou
de tanto gargalhá
só porqe eu fui propô
a idéia de casá.

memo assim ela aceitô
e hoje nóis vive juntinho
chamo ela de amô
ela me chama de benzinho.

nóis temo por compahia
um punhado de barrigudinho
o Chulêdo o Alaor o Zaria
o Tiolo o Norfo e o fonsinho.

nóis vai pelejano na vida
sem lenga lenga, léro léro
a Mindota tá forte sacudida
a fiarada tá tudo uns bitelo.

só eu que ando meio perrengue
o difruço não que me deixá
o nariz anda sempre escorreno
mais vou vivendo pelejano málemá.

A Cocera da sodade:

Sodade,cocerinha que coça
dentro do peito da gente
sodade daquele tempo da roça
quanto mais a gente coça
mais sodade a gente sente.

Tem certas coisas que acontece
pra sempre fica guardada
a gente nunca se esquece
com algumas se entristece
mais tem outras que é engraçadas.

O lugá onde eu morava
era bem longe da cidade
era um lugá bunito eu gostava
do sítio das mamangava
só de lembrá sinto sodade.

Arriava minha mula machadera
era bem mais preta que carvão
arisca não gostava de brincadera
quando apertava as barriguera
rinchava e dava coice de montão.

Meu cachorro amigo de verdade
me acompanhava pra todo lado
quando ia fazê compra na cidade
saía cedo e vortava só de tarde
com ele eu tava bem acompanhado.

Meu primero terno de brim xadreiz
minha camisa bonita de flanela
me lembro do sucesso que feiz
quando calcei pela primera veiz
aquele par de butina amarela.

inté parece que tô veno
a puera levantá do chão
todo mundo se mexeno
o baile da tuia vai ferveno
igual pipoca em calderão.

A festa que todo ano realizava
quando acabava a colheta do café
a noite intera o sanfonero tocava
foi lá que comheci minha mulhé.

De repente,abri o zóio assustado
tinha alguém que tava me cutucano
eu tava numa cadera sentado
pensano e sonhano acordado
na asa da sodade eu tava viajano.

O desejo da bastiana:

A Bastiana amanheceu mascano o bico da fronha
já percebi que ela tá esperano filho
ficô com vontade de cumê curau e pamonha
peguei o balaio fui lá na roça catá milho.

Os milho verde já tá na hora de colhê
os cabelo das espiga já começa a secá
o balaio é muito grande,não carece enchê
se não fica pesado na hora de carregá.

A Bastiana vai na bica,leva o tacho pra lavá
o Vadô vai no mato catá lenha pro fugão
as espiga o Nicolino me ajuda prepará
escolhe as palha pra fazê amarração.

As pamonha que nós fais fica da ponta da zoreia
a Bastiana come tanto que chega até impanziná
dispois que todo mundo fica de barriga cheia
o fogo da azia,então começa a queimá.

Nóis come coalhada pra combatê a queimação
não demora muito tempo começa a revirá
a barriga incha,fais um baita barulhão
tem que saí correno lá pro fundo do quintar.

A Bastiana se diverte com essa correria
todo ano se repete a festa da pamonha
a casa já tá pequena pro tamanho da família
ainda hoje ela acordô,mascano o bico da fronha.

Dispois de um dia…..

Quando a tarde enchê de sombra o terrero
quando as galinha fô procurá os pulero
dispois de um dia trabalhoso e cansativo
dispois da janta gostosa da minha mulhé
dispois de bebê uma caneca de café
acendo um pito e fico olhano o céu,pensativo.

Afino as cordas da minha viola
procuro nos ponteios que consola
a melodia brota no compasso da canção
os vaga-lume acende os farol que alumia
o chororó se despede de mais um dia
o curiango pia triste lá no fundo do grotão.

Por detrais das arves vem surgino de mansinho
a lua branca e serena vai clareano os caminho
a noite calma me convida pra sonhá
eu abraço com mais força minha viola
e me entrego nos ponteios que consola
minha alma sonhadora sai no espaço a voá.

É noite alta a brisa fresca me embala
o sono chega minha viola então se cala
satisfeito e realizado vô pra casa descansá
vô me enroscá nos braços da minha amada
a festa do bem bão vai inté de madrugada
mais antes do sol nascê,levato e vô trabalhá.

O Lobisome :

A quaresma seguia calma na fazenda baronesa
o pessoal fazia de tudo com intenção de ajudá
as mulhé rezava o terço com um pano na cabeça
os home batia matraca baxinho,bem devagá.

Andava de casa em casa e toda noite repetia
uma cantiga triste,mais parecia um lamento
a procissão estranha no silêncio aparecia
na luz fosca das lamparina dexava tudo cinzento.

Rezava pra quebrá o encanto da maldição
uma estória que os mais velhos gostava de contá
um home feio que morava sozinho na região
se transformava em lobisome nas noites de luar.

Nas noites de sexta-fera o pessoal ficava precavido
a reza acabava cedo e todo mundo ia embora
o bichão peludo ficava no mato escondido
e quando nasce a lua cheia ninguém qué ficá pra fora.

Na cerca de arame berano o fundo do quintal
o alvoroço das galinha e dos porco no chiquero
quebrô o selêncio que já era quase total
um uivo triste se espalhô pelo terrero.

Empurrava a porta da acozinha,arranhava a janela
corria atrais dos cachorros e não parava de uivá
nóis tinha que batê prego mais grosso nas tramela
reforçá as tranca pro bitelo não entrá.

Pela fresta da janela eu olhava assustado
a noite era clara por causa do luar
o danado babava com os zóio avermelhado
comia bosta de galinha,não parava de rosná.

Coçava a cabeça,balangava as zoreia
as umha encurvada parecia de gavião
no cangote um farrapo de camisa vermeia
o resto da ropa espaiada pelo chão.

A lua branca provocava aquela mudança
na estranha criatura amaldiçoada no feitiço
o pessoal da fazenda rezava na esperança
de disfazê o mal feito e acabá com o suprício.

Existia na região uma velhinha feiticera
que ofereceu ajuda em torca de alguma criação
feis uma simpatia que foi no alvo bem certera
ensinô um feito de acabá com amaldição.

Derreteu no calderão um crucifixo de prata
e da prata derretida transvormô
em um punhal
na correia do bodoque feito do timbó da mata
acertô de cheio o coração do animal.

O lobisome uivô de dor,se debateu, esperneou
quando a prata feis rolá o seu sangue pelo chão
a lâmina afiada o encanto do feitiço se quebrou
e hoje virô estória o lobisome do sertão..

a priguiça:

A priguiça me pegô
fiquei desacorçoado
minhas pernas bambeô
eu sentei já tô deitado.

Posso inté morrê de fome
mais eu não vô trabalhá
só quero abri a boca
e podê despreguiçá.

Por mim tanto faiz
eu quero é descansá,

Eu não quero nem sabê
como anda a infração
quanto custa o arroiz
ou o quilo do feijão.

Se a fome apertá
eu dô uma volta por aí
pego a vara e o emborná
e vô pescá uns lambari.

Por mim tanto faiz
eu quero é descansá,

Canivete afiado
uma cabeça de paia
o meu pito tá enrolado
o meu binga nunca faia.

Sento na bera do corgo
uns pexinho vô pescá
quero iscuitá de longe
os passarinho cantá.

Por mim tanto faiz
eu quero é descansá,

O meu dente tá dueno
nunca vi uma dor tão braba
na panela do danado
tem semente de goiaba.

Carrapato tá mordeno
bem no pé do meu imbigo
tá coçano, tá dueno
não importo, eu nem ligo.

Por mim tanto faiz
eu quero é descannnnnçáaaa….

o cabôlo poéta nhô Noraldno;