O Pranto da chuva braba:

Trovoada no céu
vento forte a soprá
vem fazeno escarcéu,
chuva tá pra chegá
chuva do meu sertão
é chuva de vento
corisco e trovão.

Meu sertão se estremece
quando chega o temporal
ventania se enfurece
transformano em vendaval.

O corisco rasga o céu
num estrondo infernal
meu sertão se estremece
vê de perto o seu final.

As águas da enxurrada
vai rolano pelo chão
vai ficano avermelhada
na terra do meu sertão.

Vai correno desenfreiada
em busca do riberão
é o pranto da chuva braba
que chorô no meu sertão.

O arco-iris aparece
lá no céu pra anunciá
toda chuva que começa
tamém tem que terminá.

todo homem que esquece
deve sempre se lembrá
pra Deus basta uma prece
para ele nos gurdá
chuva do meu sertão
é chuva de vento
curisco e trovão.

O Firirico:

Quando pego na viola
escuito na gaiola
um canto encantadô
que se perde no infinito
esse canto tão bunito
declaração de amô.

É o Zico Firirico
quo só fica abrino o bico
e a bela Josefina
que não pára de pulá
fico indeciso,
não sei se vou ou fico
mais acabo ficano
só pra vê ele cantá.

O Zico Firirico
é um canário cantadô
e a bela Josefina
é a canarinha,seu amô
quando ele canta
ela fica contente
e transmite para gente
a alegria desse amô.

Declara o seu amô
num gorjeio apaxonado
Josefina toda facera
iscuita o seu cantô
ela corresponde,
não esconde o seu agrado
no seu peito apaxonado
tamem sente o memo amô.

A natureza dá o exemplo
como deve se amá
duas aves pequenina
me ensinô essa lição
o amô é um sentimento
que dá vontade de cantá
fais a gente querê bem
se tem amô no coração.

Só eu vivo amargurado
disprezado sem ninguém
aquela malvada que eu amava
me deixô triste,sozinho
meu cantá é triste porque
sei que ela não vem
me fazê feliz que nem
esse casal de canarinho…

Beco sem saida:

Já amarrei uma corda no pescoço
só tá faltano pulá do barranco
pro pessoal não ficá em alvoroço
antes de recebê o derradero tranco.

Vô dizê por que tomei essa atitude
vô tentá esclarecê o que tá bem compricado
não deu certo mais eu fiz tudo que pude
nessa carta vô deixá bem expricado.

Certo dia por alguém me apaxonei
foi nesse dia que o meu drama começou
na melhor das intenção com ela me casei
não demorou muito tempo tudo se compricou.

Ela tinha uma filha bonita e formosa
e não tinha compromisso com ninguém
o meu pai viúvo esperto e bão de prosa
os dois se engraçaro e se casaro também.

Os filhos apareceram dispois dessa união
o meu filho ficou sendo cunhado do meu pai
minha mulhé se tornou avó do meu irmão
essa baita confusão não sei inté onde vai.

Quando começo a pensá aumenta mais a confusão
eu me transformei em sogro do meu próprio pai
e ao mesmo tempo avô do meu irmão
essa baita confusão não sei inté onde vai.

Eu pensei e repensei pá tomá essa decisão
num beco sem saída cada veis mais compricado
antes que eu tenha alguma nova disinlusão
botei o laço no pescoço,prefiro morrê enforcado.

O pomar:

Eu já fui um muleque no tipo espirto de porco
não tinha medo de buraco,muito menos de altura
os bicho carpintero comigo andava solto
subia bem alto pra pegá fruta madura.

Na fazenda que eu morava não saía do pomar
andava de galho em galho parecia um sagüi
de toda fruta eu queria exprimentá
em cada árvi eu gostava de subi.

Mixirica,fruta do conde,amexa e pitanga
jambo,melância,morango e mamão
pêra dágua,abacate,caju e manga
jaca,pesco,figo,jabuticaba e melão.

Maracujá,laraja,uva e banana
abacaxi,carambola e româ
vage de ingá,dispois chupava cana
goiaba,amora,gostava de maçã.

Eu passava o dia chupano fruta no pomar
só ia embora quando começava escurecê
a barriga estufada eu sentia revirá
a boca m estamo desandava a doê.

No dia seguinte fazia tudo outra veiz
me sentia feliz com tanta fartura
daquele pomar eu era o maior fregueiz
inté acabá a temporada das fruta madura.

Meu Galo Índio:

Meu Galo índio bateu asa pra cantá
tá me avisano que o dia amanheceu
salto da cama,vô pra roça trabalhá
já clareô por trais dos monte o sol nasceu.

Cabaça d'água já tá cheia inté o gargalo
a comida e a merenda já tá dentro do imborná
das galinhas já tratei,já dei milho pro cavalo
tirei leite da tramela e soltei ela no curral.

Minha enxada corta mais do que navalha
só me dá satisfação na hora de capiná
o som do seu tinido pela roça se espalha
inté parece araponga quando começa a cantá.

olho pro céu vejo que o sol já descambô
lá bem longe nos confim já começa a relampiá
no buraco dos cupim aliluia arvoraçô
ranco minhoca,pego as vara e vô pescá.

Minha casa,minha roça,meu lugá de diversão
minha vida de caipira eu não troco com ninguém
eu intá sinto orgulho de tê calo nas mão
sou feliz no meu sertão aqui me sinto bem.

Minha mulhé tá de acordo com meu jeito de vivê
a tal felicidade tamém mora no sertão
só é preciso dá bastante amor,e recebê
a lei do bem querê fais muito bem pro coração.

A Fatalidade:

Finalmente chegou o dia que eu tanto esperava
marcacado com um xis, no calendário da folhinha
eu contava ansioso os minutos que faltava
comprei um terno novo, as butinas inté brilhava
já estava caminhando em direção da igrejinha.

O coração dentro do peito pulava de contentamento
o meu sonho finalmente ia se realizá
se aproximava ligero o tão esperado momento
pra nóis fazê o sagrado juramento
no altar da santa mãe nóis ía se casá.

A igrejinha tava bunita,toda enfeitada
de alecrim e trepaderas de maracujá
no arco verde da taquara entrelaçada
formava um túnel de flores perfumada
o sino repicava em festa,só faltava ela chegá.

De repente,apareceu um cavalero em disparada
riscava a anca do cavalo na roseta da espora
gritava e pedia ajuda,com a voiz disisperada
pressenti que minha vida ia ficá marcada
foi naquele dia que minha sorte foi-se embora.

Uma charrete enfeitada o burrinho ia levano
num trote elegante em direção do arraiá
a flor mais bunita que eu tava esperano
outro caminho o distino já tava preparano
levõ a minha flor e eu fiquei triste,a chorá.

A fatalidade não tem dia nem hora certa pra chegá
ela nunca exprica nada e nem pede expricação
chega raivosa começa logo a golpeá
seus golpe fere mais que um golpe de punhal
cravado com bem força em riba do coração.

Atravessano o caminho apareceu,em hora errada
uma cobra venenosa,peçonhenta e traiçoera
nas patas do burrinho deu o bote e ficô enrolada
mortalmente ferido,saiu pra fora da estrada
foi arrastano a charrete e caiu na ribancera.

Minhas pernas bambiô,perdi a força nos jueio
quando vi na minha frente aquele triste cenário
o corpo dela retorcido,partido pelo meio
o vestido branco ficô todo vermeio
tingido pelo sangue da Maria do Rosário.

A mágoa se enganchô de tal manera no meu peito
o destino macetô e espremeu meu coração
hoje eu choro por ver o meu mundo desfeito
o tempo passou mais continuo do memo jeito
do meu sonho de amor só restou a ilusão.

Já tô cansado de tanto pedi pra santa mãe me levá
pro lado da morena que eu tanto quero bem
em minha frente só consigo enxergá
uma cruiz enfeitada com flor de maracujá
meu coração,meus pensamentos,tá com ela no além.

Uma Casinha Escondida:

Acordei quando o sol tava nasceno
meu carijó tava cansado de cantá
minha cacunda já tava dueno
então resolvi me alevantá.

Enfiei a butina no pé
puis uns graveto no fogão
acendi o fogo,esquentei o café
enrolei um pito,acendi ele no tição.

Fui no paió de milho,enchi o balaio
tirei leite da vaca malhada
dispois tratei do meu baio
e do resto da bicharada.

Já tinha tratado das criação
não tinha mais nada pra fazê
encostei distraído num moerão
garrei a pensar no meu vivê.

Olhava pro meu ranho de pau-a-pique
que fica nas marge dum corguim
não tinha conforto não era chique
mais tava bão demais pra mim.

Meu cachorro preguiçoso dormia
debaixo dum pé de mamão
a passarinhada alegre fazia
no arvoredo um baita barulhão.

Um João-de-barro pulava apressado
campeava bichinho pra comê
um beija-flor batia a asa parado
chupava o mel nas flor do ipê.

De repente eu senti no ar
um cherinho de mandioca frita
escuitei uma voiz me chamar
era a minha mulhé,a Rita.

A Rita e mais treis mulequinho
formava a minha família
o Valdivino,o Dodô, o Vitinho
a maió riqueza que eu possuía.

Cocei a nuca por debaxo do chapéu
acendi meu pito que tinha apagado
levantei os zóio pro céu
e disse: meu Sinhô,muito obrigado.

O caboco que tem na vida
uma família e um lugá pra morá
uma casinha,memo sendo escondida
ansim que nem a minha nesse lugá.

Pode senti muito orgulhoso
a felicidade é a gente que fais
sê caipira não é vergonhoso
só não pode sê priguiçoso demais.

Carro de Boi Cantadô:

Hoje vivo na cidade
prisionero da sodade
me maltrata e fais chorá
com o coração amargurado
volto de viage pro passado
onde vivo sempre a recordá.

As montanha azulada
pela fumaça das queimada
o canto triste da cigarra
esta sodade que me agarra
e não qué me largá.

O carro de boi cantadô
priguiçoso inté agora não passô
ainda iscuito o seu cantá.

Me lembro do carrero malvado
com o ferrão aguçado vivia a cutucá
a anca do fidargo,do soberbo,do sonhadô.
O Faísca do do cangote esfolado
pela canga maltratado
num mugido triste lamentô.

Volto de viage pro passado
trago tudo bem guardado
dentro deste velho coração
mergulho nos meus pensamentos
e revivo aqueles momentos
na minha imaginação.

O rangido triste da portera
a igrejinha do divino salvadô
o olhá daquela morena facera
que foi o meu primeiro amô.

Tudo isto tá guardado
aqui dentro do meu peito
inté parece que tá gravado
não esqueço,não tem jeito.

pode passá o tempo
e os meus cabelos branqueá
mais aqueles momentos
pra sempre vô recordá.