Compadre João:

Compade João,Compade João
desse jeito nóis não mata nada não

nóis fomo fazê uma caçada
não tinha nada,nada tinha pra matá

ficamo inté de madrugada
a bicharada foi durmi noutro lugá

a espingarda já tava carregada
mais na hora izata a espuleta não estorô

o bicho passou por nóis numa folga danada
eu dei risada e o compade João xingô

compade João,compade João
desse jeito nóis não mata nada não

o bicho que nóis pode matá
tá guardado dentro dum garrafão

jogue a espingarda prá lá
e vamo matá o bicho,compade João

compade João,compade João
esse bichoi vai jogá nóis dois no chão

eu seguro a lanterna e a espingarda
e vóis mecê segura o garrafão

Santo Onofre que nos guarde
nos dê a sua boa proteção

segura firme esse gargalo
e vamo matá o bicho,compade João

compade João,compade João
esse bicho derrubô nóis dois no chão..

Minero porco:

Minha mulhé todo momento me chama atenção
inté parece que ela não gosta mais de mim
diz que o meu procedimento parece de um bobão
só porque eu gosto de gargalhá ansim…

Ela me chama de panaca,de minero porcaião
na hora de comê me lambuzo inté as zorêia
tá no zero da estaca a minha iducação
ela fica braba se falo com a boca cheia.

Dispois de enchê a pança dô umas rotada
limpo a boca com as costa da mão
ela me xinga,fica braba,fica zangada
e me chama de ordinário porcaião.

Pego uns fiapo da bassora de piaçá
tiro as sobra das casquinha de feijão
as panela dos dentes tá cheia,carece limpá
me bate com o avental e me chama de porcão.

Será que o meu porcedimento tá errado
ou será que ela tá ficano izigente?
ela sai pra fora e me deixa sentado
sozinho,abandonado,chupano os dentes…

volte aqui bem, quero café…

Tuuuuuti:

Inté hoje eu me lembro
do meu tempo de criança
não me sai do pensamento
guardo sempre na lembrança.

As brincadera de cirandinha
esconde-esconde,pega-pega
uma e duas argolinha
passa-anel e cabra-cega.

As meninas cantava,pulava e corria
me lembro da Tiana da Dorva da Rute
procurava um lugá e se escondia
dispois de contá deiz gritava tuuuuuuti.

A mulecada jogava birrula
soltava pipa,rodava pião
cavalinho de pau,que corre que pula
jogava bola de gude lá no terrerão.

Uns brincava de rodá piorra
no recreio dispois da merenda
balangava no vai-vem da gangorra
lá na escola da fazenda.

Me lebbro do Tonho,do Merquide,do Péia
do Jatubá,do Bento,do Baeta,do Vadô
o Malaquia,o Pimpa,o Itro,o Enéia
inté parece que o tempo não passô.

Esse montão de coisa boa
que eu guardo na lembrança
me fais eu ri à toa
e eu volto a sê criança, tuuuti.

A proteção certa:

Já que o mundo anda cheio de maldade
a gente então precisa se precavê
vô segui os conselho da minha comadre
e arrumá as armas pra mim defendê.

Ela falô que a inveja é perigosa
tem muita força e pode inté matá a gente
o mundo tá cheio de gente invejosa
olho gordo mata e seca tudo de repente.

Então eu fiz do lado esquerdo do portão
uma prantação berano a cerca da divisa
prantei um pouquinho de tudo que é bão
proteção melhor do que essa não precisa.

Umas mudas de comigo-ninguém-pode
um pé de arruda,pinhão roxo e alecrim
uma tocera de capim barba-de-bode
espada-de-são-jorge no começo do jardim.

Fui na benzedera,preparei uns patuá
trevo de quatro folha,uma figa de guiné
ferradura de sete furo vô na porta espindurá
uma pata de coelho,um guizo de cascavel.

Um punhado de sal grosso espalhado pelo chão
é muito bão pra combatê o mau olhado
uma cavera de vaca enfincada num moerão
espanta inté assombração em lugar assombrado.

Proteção na minha casa não faltava
eu me julgava protegido inte demais
mais esqueci que a proteção que eu precisava
é a que vem de Deus,porque ela vale mais.

A receita da boa sorte:

Prá quem tivé interessado em sabê
vô ensiná a receita da boa sorte
preste atenção no que eu vô dizê
te que tê corage e sê bastante forte.

Prá consegui sê querido das mulhé
e ter bastante dinhero pra gastá
sê bão de briga fazê tudo o que quise
tê vida mansa,vivê sem trabalhá.

Pega dois pioio de galinha choca
uma casca bem grande de tatu
fais uma trança com paviu de mandioca
treis ovo de curuja e dois de urubu.

Espreme barrigada de mandruvá
espalha por riba miolo de taturana
duas ou treis moela de gambá
duas tripa recheada com bucho de ratazana.

Espreme o caldo do limão galego
no preparo da farofa de gafanhoto
sangue de carrapato,um papo de morcego
uma lagartixa,treis barata de esgoto.

Dispois que tivé tudo preparado
vô ensiná a preprará o tempero
misture tudo e mantenha misturado
que é pra fermentá e conservá o chero.

Dispois dispeja tudo numa panela
e mexe bem com uma cuié de pau
acende o fogo mais abre bem as janela
porque a fumaça pode inté fazê mal.

Eu garanto que essa simpatia
inté hoje nunca deu chabu
se cumè um poquinho todo dia
usá como prato a casca de tatu.

Garanto que vão ficá contente
o sonho de vanceis vai se realizá
a vida vai sê daqui pra frente
folgada que nem vida de marajá.

Vai dá pulo de tanta alegria
vai inté querê soltá fuguete
mais pra funcioná a simpatia
tem que usá a casca de tatu
igual um capacete.

no minino por quinze dia.

Foguera de palha:

Sei que existe uma grande distância
que separa o passado do meu presente
vai muito longe o tempo da minha infância
mais está tão perto guardade na mente.

Quando a saudade então começa apertá
solto as rédeas do meu pensamento
enfinco as esporas com vontade de galopá
e bem depressa eu volto de viage no tempo.

Vô galopano nos campos verdes do meu passado
pelas estradas da minha imaginação
dentro do peito vai bateno descompassado
corcoveia de saudade um fogoso coração.

Galopa desimbestado na invernada da lembrança
no remanso da saudade pára pra descansá
no começo da estrada da minha vida de criança
meu caminho de chão duro eu começava caminhá.

Tudo passa,tudo fica perdido pelo tempo
a infância,a juventude,a mocidade,a velhice
meu cavalo sonhadô viaja nos pensamento
no horizonte da lembrança uma grande planice.

A ilusão é uma grande foguera de palha
que o tempo se encarrega de queimá
na vida só vinga o fruto de quem trabalha
por mais espinho que a gente tenha que pisá.

Panela velha:

Minha namorada não é nunhum brotinho
é uma panela velha com mais de quarenta ano
mais é carinhosa e me chama de fofinho
uma mulher ansim que eu tava precisano.

Nosso namoro é uma prova de carinho
provoca inveja em todo mundo do lugá
ela é carinhosa e me chama de fofinho
é um tal de fofo pra cá e fofo pra lá.

Formosura de mulhé que mudou a vida minha
elegante,bonitona,está sempre sorrino
chamo ela de fofura,chamo ela de pombinha
amor da minha vida,minha flor de pipino.

Daqui uns tempo ela vai ser minha mulhé
vou deitá no colo dela e vou fechá o ôio
ela vai me coçá a cabeça me fazê cafuné
me fazeno cosquinha catano pioio.

Espreme uns aqui,esmagaia outro
acolá
essa é a vida que eu sempre esperei
nos braços dela eu vivo a suspirá
com essa fofura eu sempre sonhei…..

O entardecê:

O sol fá vai descambano
lá prá banda do horizonte
xororó já tá cantano
canta perto e distante.

A coruja apareceu
lá no tôpo do cupim
curiango apareceu
na moita do capim.

Vaga-lume e as lacraia
já começa aparecê
pelo mato se espalha
anunciano o anoitecê.

lá no brejo a sapaiada
fais um baita barulhão
nas árvis da envernada
já sentô dois gavião.

As furmiga tanajura
já pararo de vuá
nas tabôa as saracura
não se escuita o seu cantá.

Pernilongo tá zunino
no pé da minha zorêia
lá no céu já vem surgino
o clarão da lua cheia.

A foguera tá queimano
que é pras cobra espantá
os peixe tá biliscano
fais minha vara envergá.

Já enchi duas fiêra
outras duas vou enchê
amanhã a frigidera
vai fritá e nóis vai cumê.

Traíra bagre mandí
piaba e curimbatá
cascudo e lambarí
tilápia e cará

A mulhé fica zangada
e começa a reclamá
prá tirá as barrigada
ela vive a resmungá.

Os gato fica miano
quereno participá
os pintinho fica bicano
puxa prá cá,puxa prá lá.

Eu só fico observano
minha mulhé chingá
pega um pedaço de pano
e começa a espantá.

Xó gato maldito
sai prá fora bicharada
seus pulguento duma figa
sai cachorro vila lata.