Pauta das Andorinhas

Fazer música deve ser coisa fácil.
Sempre que vejo uma partitura me lembro de como as andorinhas escrevem notas musicais nos fios em todo entardecer.
É uma pena que eu não saiba ler aqueles pontos, talvez, mais tarde eu tente aprender, e assim, poderei compor as lindas melodias que as andorinhas escrevem todos os dias para aquecer os frios dias de inverno que rondam nossa solidão.
Quem sabe rimaria as colcheias da pauta com o rouco piar das corujas, lembrando ao ouvinte que a solidão está perto, ou talvez, pudesse usar o ritmo do eterno cantar dos sabiás na melodia escrita, ou então ainda usar a inquietante cantoria dos bandos de pardais, como um coral alegre para repetir os trechos do refrão.
Estão elas a pousar, lá, chega a outra, mi, e mais uma agora, sol, descem mais duas, ré e si, também pousou, dó e mais em frente está o bem te vi entrão, fá.
E estas fusas! O que elas querem me dizer? Será um cântico de louvor e paz, ou uma alegre cantiga de roda ou quem sabe ainda uma apaixonada canção de amor?
Que notas malucas neste sobe e desce, pousa e pula, ali tem uma falha. Vem mais uma preencher, senão me desafino e o meu canto não será tão belo quanto este anoitecer.
Tem também uma clave de sol, sei lá, que agora percebi.
Que música estarão escrevendo as andorinhas em pauta iluminada pela luz do crepúsculo, as vezes com rolinhas e noutras com pardais. Não lhes faltam parceiros por onde pousam faceiras compondo suas toadas, cantigas ou melodias, que um dia com certeza poderei ler.
Sempre estarão, ora com canários outra com sabiás, cantando e compondo com os sons da natureza, nos bem firmes e emparelhados fios, podem ser feios, mas dele se tiram canções de ninar.

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