O que é felicidade?

Felicidade é o presente que só você pode se dar.
Felicidade é a qualidade do bem-estar.
A felicidade interna é a que vem de dentro do nosso coração: nossos desejos e anseios, nosso meios de sermos felizes e nossos jeitos de driblar a tristeza ou as infelicidades.
Só existe um caminho para a verdadeira felicidade. É a conjução do prazer nas quatro esferas:
Trabalho, amor, lazer e estudo.
No trabalho você deve ter prazer em realizar.
No amor você deve receber e dar prazer.
No lazer você deve procurar o prazer.
No estudo você deve fazer do saber um prazer.

A Arte de Ser Feliz (Cecília Meireles)

Houve um tempo em que a minha
janela se abria para um chalé.

Na porta do chalé brilhava
um grande ovo de louça azul.

Neste ovo costumava pousar
um pombo branco.

Ora, nos dias límpidos,
quando o céu ficava da mesma
cor do ovo de louça,
o pombo parecia pousado no ar.

Eu era criança,
achava essa ilusão maravilhosa e
sentia-me completamente feliz.

Houve um tempo em que a minha
janela dava para um canal.

No canal oscilava um barco.
Um barco carregado de flores.
Para onde iam aquelas flores?
Quem as comprava?

Em que jarra… em que sala,
diante de quem brilhavam,
na sua breve experiência?
E que mãos as tinham criado?

E que pessoas iam sorrir de
alegres ao recebê-las?

Eu não era mais criança,
porém minha alma ficava
completamente feliz.

Houve um tempo em que a minha
janela se abria para um terreiro,
onde uma vasta mangueira
alargava sua copa redonda.

À sombra da árvore, numa esteira,
passava quase o dia todo sentada
uma mulher, cercada de crianças.
E contava histórias.

Eu não podia ouvir, da altura da janela,
e mesmo que a ouvisse, não entenderia,
porque isso foi muito longe,
num idioma difícil.

Mas as crianças tinham tal expressão
no rosto, e às vezes faziam com as mãos arabescos tão compreensíveis, que eu participava do auditório, imaginava os assuntos e suas peripécias e me sentia completamente feliz.

Houve um tempo em que na minha janela havia um pequeno jardim seco.

Era um tempo de estiagem,
de terra esfarelada,
e o jardim parecia morto.

Mas todas as manhãs vinha um pobre
homem com um balde e em silêncio,
ia atirando com a mão umas gotas
de água sobre as plantas.

Não era uma rega:
era uma espécie de aspersão ritual,
para que o jardim não morresse.

E eu olhava para as plantas,
para o homem, para as gotas de
água que caíam de seus dedos magros
e meu coração ficava
completamente feliz.

Mas, quando falo dessas pequenas
felicidades certas, que estão diante
de cada janela, uns dizem que essas
coisas não existem, outros que só
existem diante das minhas janelas
e outros finalmente, que é preciso
aprender a olhar, para poder vê-las assim.

Cecília Meireles

Amar é ser feliz! (Hesse)

Quanto mais envelhecia, quanto mais insípidas
me pareciam as pequenas satisfações que a vida me dava,
tanto mais claramente compreendia
onde eu deveria procurar a fonte das alegrias da vida.

Aprendi que ser amado não é nada, enquanto amar é tudo.
O dinheiro não era nada, o poder não era nada.
Vi tanta gente que tinha dinheiro e poder, e mesmo assim era infeliz.
A beleza não era nada.

Vi homens e mulheres belos, infelizes, apesar de sua beleza.
Também a saúde não contava tanto assim. Cada um tem a saúde que sente.
Havia doentes cheios de vontade de viver
e havia sadios que definhavam angustiados pelo medo de sofrer.

A felicidade é amor, só isto.
Feliz é quem sabe amar.
Feliz é quem pode amar muito.
Mas amar e desejar não é a mesma coisa.
O amor é o desejo que atingiu a sabedoria.
O amor não quer possuir.

"O amor quer somente amar".

Hermann Hesse, em Antologia Póetica – Andares.

Canta teu canto, sempre!

Canta!
Não mais que uma nota,
Cante de chapéu ou pires no chão
E depois conta,
algum real, dólar, cruzeiro ou barão.

Canta!
Não mais que uma vida,
Cante repente, cordel ou alguma canção
E depois conta,
a tua cruz nas linhas de tua mão

Canta
Não mais que uma nota,
Canta não tarda, palavra que não cala, razão
E depois conta,
a todos, tua história, na fração

Canta, cantador!
É abrir-se ao outro, ao coração transbordar
É sorrir, chorar, fertilizar o sertão
E depois lançar,
as sementes e colher a emoção.

Canta
Não mais que uma esperança, desejar
Canta pra alegrar, ninar
E depois acordar aquela criança
E clamar a todo mundo, paz e perseverança

Canta
Não mais que uma dança, festejar
Canta pra ver, ouvir, sentir e buscar mudança
E depois lançar
As bases de uma nova aliança

Canta,
Não mais que uma palavra,
Canta de lábios abertos, de corpo e alma,
E depois do pranto,
Vem a bonança e a calma.

Canta, cantador!
Não mais que um sentimento,
Canta de mente aberta, e eterniza o momento
E depois do canto,
Vem a chama e o fermento..

AjAraújo, o poeta humanista exorta a gente a sorrir, a cantar, espantar os males, suportar as dores, enxugar o pranto e a viver o canto pleno da existência.

Parapente

Voei! Ontem, fui pássaro!
Vi tudo pequeno, todo mundo igual.
Muita paz, muita beleza…
O silêncio, surreal!
Barulho mesmo, só do vento
desmanchando meus cabelos.
E viajou meu pensamento
prum lugar todinho meu.
Lá em cima, a liberdade.
O mar, o sol, o céu…
Será isso a felicidade?
Porque pensei: não dá pra ser mais feliz
do que sou, aqui, nesse instante!
Mas, não…
Tem algo que aquietaria
meu humor, tão inconstante:
ter você a meu lado, amor,
faria meu coração viajar,
ir além do Bojador.
Ah, se eu pudesse estar contigo
só um pouquinho, um segundinho,
sei lá, assim, de repente,
veria que a felicidade é bem mais
que um voo de parapente!

Um dia feliz

O Sol vai se pôr,
O céu com esta cor.
A noite vai nascer;
Após aprazível entardecer.

Aparece no firmamento
A lua que desenhei.
Vem recompor
A falta do astro-rei.

São poucas estrelas
Que eu até já contei
Uma, duas, três…

Que felicidade de olhar para o céu.
Que obra- prima, meu Deus!

O contador de hora,
Mostrou-me, agora,
Que este dia
Está indo embora

Vou me recolher
Para amanhã ver
o amanhecer.
Este espetáculo
Não posso perder!

Este é um dia feliz,
Com certeza!
Algo de magnífico
Acontece
Acima de nossas cabeças.