No silencio da noite o louco escuta
os imóveis movimentos do cosmo
onde gravita a imensa máquina celeste.
Seu cérebro aflito morre o tempo de estrelas e planetas,
filtra luzes negras, e os finíssimos sinais das galáxias
uivando no espaço a grande solidão da sua dor.
Inútil negá-lo, convidá-lo ao diálogo e a razão:
só ele, o louco, é lúcido e tudo percebe
além do pensamento e das palavras.
De que vale dizer o que ninguém mais sente?
Na mudez o louco é a origem da vida:
os elementos são simples, sem idéias, nada explicam,
como a rocha se deixa estar na terra
e é ela mesma ainda mais só.
O louco ignora o sentido do corpo,
apenas a sombra parada no pátio
se move intimamente à inclinação do sol.
De que duvidar, a quem mentir,
se ele é o astro-rei que esplende e sorrir no muro de cal?
A sombra de Deus no pátio do hospício
há de durar eterna.
Por isso o louco há muito se calou.
Eliezer Lemos