Não partirei sem dizer-te, Mar.
Como te sinto próximo de minha alma!
És para mim um ser, um amor, uma presença, uma atração,
um abismo, um estímulo para mim.
Mas és também um pouso,
um regaço, um jardim, um seio, um leito, um refúgio,
onde às vezes desejo esconder-me,
conter-me, encontrar-me, aplacar-me.
Agora vejo-te, Mar, de longe, e sinto desejos de correr ao teu encontro,
de vir brincar com os teus cabelos e colher flores nos teus campos.
Vejo-te tão doce nesta noite de verão!
Ouço ao longe tua voz chamar-me, tua voz cantando,
mas não percebo o que dizes.
As tuas palavras não as distingo, eu sinto que me chamas,
que tuas mãos se agitam na minha direção.
Sou um inseto de asas molhadas na orla das tuas águas, e nada mais.
Sou um inocente diante de ti, que conheces todos os segredos.
Sou um recém-vindo a este mundo, e tu és antigo, remoto, sábio.
Assististe a tudo neste planeta;
os teus olhos verdes se espantaram quando a vida surgiu,
se manifestou e veio crescendo e caminhando sobre o teu dorso.
Espero de ti, Mar, a minha eternidade, volta à infância,
A surpresa de que cheguem dos teus ínvios caminhos,
as raparigas de tranças,
que virão dançar para os meus olhos exaustos.
Espero de ti as flores mais belas.
És terrível e bruto,
mas às vezes amo-te como se fosses o meu berço perdido,
e sonho que poderei adormecer um dia, em ti, quieto.
Olhando as estrelas, purificado pelo teu sopro,
o Mar que o vento quente estremece neste momento,
Mar do mundo, filho do mundo,
Mar materno que cabes todo no meu peito,
como um grande amor!
Eliezer Lemos