Hoje em dia, diariamente é dia.
Estou com AVC hemorrágico.
Como é trágica essa tragédia.
Enfim esse fim.
Esse mundo sem sol e lua.
Esse mundo obsoleto.
Esse mundo que não é mundo…
Assim, é outro mundo.
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Hoje em dia, diariamente é dia.
Estou com AVC hemorrágico.
Como é trágica essa tragédia.
Enfim esse fim.
Esse mundo sem sol e lua.
Esse mundo obsoleto.
Esse mundo que não é mundo…
Assim, é outro mundo.
Nas horas que passam, que os segundos tem dias.
Nas cordas que me abraçam nesta noite tão fria.
Como o gosto do aço que insiste em adocicar minha boca.
Mantendo o cheiro das suas roupas jogadas pelo meu armário.
No sentido do possível só se vê o contrario.
Se a amargura tiver um nome ela se chama Polinésia.
Não sei porque tão longe e tão perto tao grande e tao pequeno.
Sentir o gosto da tua boca, por mais que doa é o que me mantem anestesiado.
Onde eu tinha a direção eu perdi o controle e me choquei com o passado
agora eu, pessoa tão incapaz que fingia ser algo me perco novamente na amargura da escuridao.
Que toda a dor que um dia alguém sentiu seja simples perante a minha
salve-se
pegue-me e me leve do mal
Vida levaste meu coração
Sugaste minha alma
Deixando imensa saudade
Já não há razão por tanta ausência.
Relembrar é uma sina
De não mais esquecer.
Vazio que tenta o disfarce
Como desejo o erguer
De seus braços a girar
O corpo estremecido feliz
Sentindo teu amor
Agora cadê você
Hoje tudo passou
Tão sincero findou
Não quero acreditar
Que hoje não exista
Veio à morte o tragou!
Esse fim que não chega,
Pois, todos estão falando,
Estão chegando,
Estão andando.
E continua…
Estão saltando.
O carro está freando.
Os gatos se pegando.
Estou indo,
Estou vindo.
Estou pulando,
Estou vivenciando.
Estou vivendo,
Estou morrendo,
Estou perdendo,
Estou vendo.
Estou correndo,
Estou abrindo,
Estou sentindo,
Estou crescendo.
Estou fortalecendo,
Estou enfraquecendo.
Eu só corro.
Eu peço socorro.
E nada desse fim…
Estou na rua a olhar a Lua ao Norte
Enquanto vejo lentamente algo do céu descer
É o Anjo da Morte
Mal posso crer
Alto e esbelto, quase sagrado
Com asas de pluma negra como o carvão
Suavemente pousa a meu lado
E sinto que algo me trespassa o coração
Um sabre de prata atravessou meu peito
Pelo meu coração passou direito
O Anjo puxa o seu sabre
E enquanto caio morto, ele os seus braços abre
O sangue cai pelo chão de madeira
Como um rio, o sangue desce por uma ladeira
E vejo por minhas mãos que perco a cor
Mas não sinto nenhuma dor
Com um sorriso o Anjo falou
E o que ele me disse me encantou
Chegou-se ao meu ouvido e cantou
Depois abriu as asas e voou
“Chegou a hora de dormir
Para lá da Lua temos que ir
Já não vais voltar a acordar
Mas finalmente já podes descansar”
Era uma ventosa madrugada de Outono
E eu estava sem sono
Vesti-me lentamente
E fui dar uma volta ao parque calmamente
O parque pequeno era
Poucas árvores e pouca erva
Mas no seu centro havia uma lagoa
Que de um banco se tinha uma vista boa
Sentei-me no banco a contemplar
As árvores desnudas e o céu nublado
E ali a descansar
Passei ainda um longo bocado
Passa sem aviso uma forte rajada
E leva uma fraca folha maltratada
Era uma folha de árvore velha e cansada
Um pouco castanha mas quase toda amarelada
Ela sobre agora o lago repousa
Enquanto o vento por cima dela passa
Flutua pela sua vida
Que certamente está perdida
Um pouco de tempo passou
E apesar do que com ela o vento brincou
A folha resistiu
De voltar à sua árvore não desistiu
“Porque não te deixas afundar?”
A ela lhe fui perguntar
“Porque não aceitas a tua sorte?
“Porque tentas impedir a tua morte?”
Mas ela não me respondeu
Porque era uma folha, que burro sou eu!
Mas por um segundo ela me pareceu compreender
Pois acho que a vi a tremer…
A folha, com toda sua força de folha, nadava
E eu simplesmente a olhava
Ela parecia que ia padecer
Mas acabava sempre por à superfície reaparecer
A certa altura, um pato lhe embate
E quase que ela se parte
Mas mesmo assim
A folha não declarou o seu fim
Como uma folha pode ter tanto poder?
Como pode ela tudo isto sofrer?
Mas eu acabando isto de pensar
A folha começa a fraquejar
A água da lagoa a agarra
E ao fundo leva aquela folha com garra
Para que no fundo da lagoa ela possa dormir
Sem se esforçar para ao seu destino fugir
Eu sei que era uma coisa inútil
Mas sinto que a minha alma com ela afundou
Depois de todo aquele esforço fútil
À sua árvore não voltou
É a ti somente
Que não te repugna a minha mente
Tu sozinha e tu apenas
Que sozinho não me deixas
Mesmo na escuridão
Onde não te vejo
Sinto a tua aproximação
E é esse o meu desejo
Dizem que tu és um fenómeno natural
Mas eu sei que tu és algo especial
Do meu lado negro és o reflexo
A única “coisa” que tem por mim afecto
Eu fugi ao mundo
E de mim ele se afastou
Mas tu nunca me deixaste um segundo
Mesmo quando todo o mundo me abandonou
Tu, a minha sombra
A única “coisa” que não me assombra
Quando caio, ao meu lado estás
Como se para impedir que ocorram coisas más
Mas penso por vezes
Porque ficas comigo todos estes anos e estes meses?
É por me quereres apoiar
Ou por de mim não te conseguires livrar?
Como é que a minha paixão
É ao mesmo tempo a minha maldição?
Vivo no limiar da loucura
Com esta solidão que perdura
Serena é a solidão
Livra-me a mente do que não é são
Permite-me (futilmente) pensar
Permite-me (para nada) trabalhar
Encarcerado na minha mente
Procuro uma saída rapidamente
Pois este vicio de não ver ninguém
Deixa-me cada vez mais do mundo aquém
Preciso de uma chave
Algo que me salve
Mas logo me apercebo
Que deste inferno não saio tão cedo
Que alegria é sofrer
Sem nada para fazer
Quatro paredes e um tecto
Algo nisto não está correcto!
Eu quero sair
Tenho que fugir
Não quero estar nesta prisão!
E esta é a minha Ode à Solidão…