"Porto Solidão

Na escuridão da casa tateio às escuras
A sondar-me o olhar preguiçoso do meu gato
Ele escolheu ser só, eu não
A solidão imposta pela vida pela passagem rápida do tempo
que transformou meus pequeninos queridos em rapagões de 1,80m e tanto.
Onde estarão agora?
O gato olha de soslaio minha sombra delineada na parede
O silêncio profundo quase palpável a agigantar o medo
Medo do que lá fora possa estar acontecendo.
Um som estridente contínuo martela em meus ouvidos um grilo também solitário insiste em quebrar o silêncio
canta em rítmo contínuo a mesmice da vida
Um arrepio brusco me divide ao meio
Parte de mim é solidão, a outra parte anseio
Anseio que esta madrugada interminável chegue ao fim
O gato entediado continua a me espiar…

Em Pé, Onde Disse Adeus

O vento gélido soprava em meu rosto e um frio desesperante tomava-me o corpo. Parado, fiquei naquele lugar, que se tornou o endereço do cemitério no qual sepultei minha alma. O magnetismo da memória imantava meus olhos ao chão, fazendo-me perder a noção de tempo e espaço. Notei que tudo em volta de mim abdicou sua cor. Pessoas ficaram sem rosto, vozes sem som, passos sem destino.

Ali minha tristeza edificou um templo alto o suficiente para alcançar as estrelas, com escadas sem corrimão e portas sem maçaneta. Das janelas eram vistas pequenas imagens alegres do passado caindo suavemente, bailando ao ar como uma folha de outono, rumo ao rígido solo da realidade.

Inertes na atmosfera, as sílabas dos poemas ditos e promessas aguardando em sono profundo num berçário situado na pradaria da esperança, chorosas pela certeza de que jamais serão cumpridas. Chorosas porque são espinhos renegados de rosas, porque são um relógio sem ponteiros.

Então, numa caixa, guardei todo o carinho. Numa enevoada e falsa expectativa de um dia trazer à luz mais uma vez a beleza daquelas jóias cujo valor é mensurável em inocência apenas. Pérolas protegidas, confortáveis no veludo, perfumadas com suave almíscar que um dia banhou tua paixão. Doce aroma que outrora nos embriagou.

Inerte fiquei no local onde me disseste adeus. Onde revelou não mais me amar. Sem mais palavras, separaste tua alma da minha. Olhou uma última vez para trás e partiu, para jamais regressar. Eu sei que não irás longe, que continuarás tua rotina próxima a mim, que me olharás por vezes e recordarás do que viveu comigo. Mas este certamente será apenas o reflexo, o espelho partido ao meio do que chamávamos de “nós”.

A brisa, agora fulminante e impaciente colidia com meu rosto. As horas salvaram-me do transe. Pouco a pouco se reestruturava o quebra-cabeça de minha existência. Um lapso de sanidade visitou meu ser e as horas voltaram a correr. Despertei.

Links para download gratuito de meus livros:

Noites em Quitaúna:
http://www.4shared.com/zip/r0pK7pe0ba/Noites_em_Quitana.html

R. Marquês de Itu S/N:
http://www.4shared.com/zip/Xh4P7Pfuba/R_Marqus_de_Itu_S-N.html

Tormenta e Bonança

Notas tu, a nebulosidade contida neste olhar só meu? O enegrecer do espírito causado pelas palavras que a ti escrevo requerem nada mais que um ato de covardia. Sublimei teu pensar nas linhas, sem dó e penalizei-te, pobre animal enraivecido.

Deliciei-me ao brincar com teus sentimentos. Cada calafrio de desespero que causei revigorou-me a ponto de viver mais mil dias. Ofereci-te o fel tocando-te a nuca, sentada à penteadeira. Admites tu que no espelho não me reflito? Esta é uma decadência tua, em especial. Em outros campos de areia cristalizada apareço nitidamente.

Oh, estrelas ingratas do céu! Tanto dediquei a vós todo o espaço de minh'alma! O que tive em troca foi esta decepção suculenta que tanto inspirou-me! Alegre por prender o rato na mesma gaiola do felino! Tão serenamente espavorido! Comparo cada raio de luz lunar a alegoria daquele desespero!

Mas não me tentes a ressuscitar o que um dia foi real e hoje é memória. Cada região do mundo humano é bem delineada pelo tempo, indiferente às cores com que pintamos o cosmo. Se em nada interfere este saber, ao menos abre os olhos daqueles que acreditam viver um dia de cada vez. Perdendo, enfim a consciência para revelar as respostas.

Não odeio nada em especial. Temo, sim, por aqueles que encontraram o ápice de seu destino. Perderam todo o seu direito de dar mais um passo à frente, como se deparados com um precipício inevitável. Pobres almas, condenadas a venerar o além, inexistente. A estes declaro com furor minhas doces expectativas referentes à sua eternidade fria e vazia.

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Noites em Quitaúna:
http://www.4shared.com/zip/r0pK7pe0ba/Noites_em_Quitana.html

R. Marquês de Itu S/N:
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Poesia por Acaso!

Sem inspiração
estou agora.
Tento atiçar a imaginação
mas ela demora.
Não consigo pensar em algo
que faça rimas.
É como querer acertar o alvo
com a flecha apontada para cima.
Não acho um bom assunto
que se organize bem em versos.
Mesmo sabendo que no mundo
há mil assuntos diversos.
Que coisa chata,
não consigo imaginar.
Isso quase me mata,
porque é horrível não poder pensar.

Mas espere um momento,
mesmo não tendo um tema,
se estas frases vou relendo,
vejo que é um poema!

REFLEXO DE MIM

Olho no espelho de mim
onde o reflexo me ofusca
e as sombras me envolvem.

Nas margens do tempo
onde o tempo não tem tempo
procuro o espaço
onde a alma flutue
no universo das minhas emoções.

Neste espaço sideral onde me encontro
onde as nuvéns cinzentas
ofuscam o meu sentir
olho o reflexo de mim
e vejo nele…
a frustração.

Mário Margaride

CRÍTICOS

Em momentos que consideramos críticos, sentimos uma imensa vontade de expressar nossos sentimentos, talvez por medo de não ter mais a oportunidade de fazê-lo.
Nunca gostei de demonstrar fragilidade, sempre achei que deixar que as pessoas percebam o quanto certas coisas me angustiam era pra gente fraca.
Errei…
Hoje, exatamente neste momento, eu gostaria de poder expelir da minha pele, do meu olhar, de mim por completo, todo este sentimento. Gostaria que me vissem frágil, com os olhos cheios de lágrimas e a boca seca, só para que pudessem entender como me sinto.
A imagem distorcida de tudo o que vejo cria uma paranóia dentro do meu peito, tornando-me, talvez, uma criatura desprezível e intolerante. Alguém que talvez sofra em vão por um amor impossível, cuja eu só acreditava existir no auge da adolescência.
É impossível me ver escrevendo tais coisas sem me sentir ridicularizada pela minha própria insensatez. Logo eu! Logo eu que sempre me achei dona das minhas atitudes e sempre agi como se tudo que me fizesse mal fosse descartado, independente se fosse um objeto concreto ou um sentimento idiota.
Cá estou eu afinal, responsável pelos meus atos e extremamente confusa, como criança indefesa, mergulho no mais profundo de mim, afim não de entender o que há, mas de acalentar meu íntimo para ter forças de reagir.